quarta-feira, 17 de julho de 2013

A paciência




       Já estou perdendo a paciência;
os dias passam:
nada.

       Inconcebível
que nos alimentemos de gestos todos os dias
e em nosso desjejum não conste nenhum beijo.

       Cada um coça sua cabeça,
resolve seus problemas:
sentamos à mesa
rimos às cegas.

       Já estou perdendo a paciência;
o mais grave: não sei o que farei sem ela.
Fui cavaleiro, corredor e poeta:
nada vale a pena.
Assim não se prospera.
A festa segue a mesma.

       Já estou perdendo a paciência.
Já não se morre de morte natural.
A morte não suporta diferenças.

       Inconcebível:
a Terra segue dando voltas,
o mundo se apaixona e envelhece;
inconcebível:
a Terra segue, segue dando voltas,
e eu, eu que não perca a paciência!


Poema de Armando Rubio Huidobro (1955-1980). Do livro póstumo Ciudadano (1983).