terça-feira, 25 de junho de 2013

Quando todos partirem





Quando todos partirem para outros planetas
eu ficarei na cidade abandonada
bebendo um último copo de cerveja,
e logo voltarei à vila para onde sempre retorno
como o bêbado ao bar
e a criança a cavalgar
na gangorra quebrada.
E na vila não terei nada que fazer,
senão encher os bolsos com vaga-lumes
ou caminhar à beira dos trilhos enferrujados
ou sentar-me no roído balcão de um armazém
para falar com antigos companheiros de escola.

Como uma aranha que percorre
os mesmos fios de sua rede
caminharei sem pressa pelas ruas
invadidas pelo mato
olhando os pombais
que vêm abaixo,
até chegar à minha casa
onde me isolarei para escutar
discos de um cantor de 1930
sem tratar jamais de olhar
os caminhos infinitos
traçados pelos foguetes no espaço.


Poema de Jorge Teillier (1935-1996). Do livro El árbol de la memoria (1961).