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Toda poesia é uma forma de
comunicação, de fraternidade, um ato de amor. Apenas os obcecados pela
incomunicabilidade e pela obscuridade podem pensar o contrário. Com razão
Gonzalo Rojas disse: "... se minha palavra não tivesse sido escutada: ah,
então não teria sido igual! Assim vou. Abrindo o mundo, como posso, com minha
palavra, que é apenas parte da palavra dos poetas". É claro que existe uma
poesia hermética, por necessidade profunda (por ora acessível apenas a uma
minoria), como a de Humberto Díaz Casanueva, por exemplo. Mas junto a estes
qualificados e necessários poetas existem os pseudopoetas que se amparam na
facilidade de expressar em linhas mal cortadas a dispersão mental, a a-lógica,
ou que despejam suas deliquescências adolescentes, seu vanguardismo anacrônico,
os que elevam o lugar comum e o discurso de jornal à categoria do espírito, ou
os que querendo ser mais Parra do que Parra incorrem em uma antipoesia que
costuma não provocar riso, mas lástima. Todos eles, e não são poucos, criam uma
confusão que prejudica notoriamente a difusão e o conhecimento da poesia como
ela é.
Em que pese toda a grande
fama da poesia chilena, e o lugar egrégio que ela ocupa segundo todos dizem
reconhecer, a grande maioria dos poetas se bate com o problema de não ter
editor, não poder dar a conhecer sua mensagem. Os editores não são filantropos,
é claro, e afirmam que poesia não vende, ainda que façam muito pouco para
difundi-la. De vez em quando se interessam pelas antologias, pois estas vendem,
mas, para a desgraça dos poetas, na maior parte das vezes não são senão
"Antojolías"[1]
ou improvisações feitas por poetas ou críticos de boa ou má vontade (fora as
antologias de Molina e Araya, Selva Lírica, a de Anguita e Teitelboim e, com
todas as suas distorções, a de Jorge Elliott, seria difícil encontrar outras
criteriosas). No ano passado apenas um livro de um poeta das últimas gerações
foi publicado por uma editora comercial: El Viento de los Reinos, de Efraín
Barquero. La fuga de Sebasatián, de Jaime Gómez Rogers, apareceu graças a ter
vencido o Premio Alerce de la Sociedade de Escritores, que está sob ameaça de
ser extinto. Mesmo Gonzalo Rojas teve de financiar grande parte do seu Contra
la muerte, que no entanto apareceu em Cuba, e a viúva de Rosamel del Valle,
Therése Dulac, financiou a edição póstuma de Adiós enigma tomasol. Assim o
poeta, sobretudo o poeta jovem, deve publicar-se arriscadamente, por conta
própria, e ao fim, seu livro, sem contar com distribuição, está condenado a ser
enviado aos amigos, a não ser que o deixe dormindo num sótão. Situações todas
elas deprimentes que contribuem para a separação entre poeta e público. E
apenas um tolo pedante ou um pedante tolo pode consolar-se atualmente da pouca
difusão dos seus livros dizendo que acontecia o mesmo com Baudelaire. Já não é
possível se conformar com a ideia da poesia como um patrimônio de uns poucos e
sábios iniciados. Se fosse assim, ela seria um luxo, e não uma necessidade, e o
poeta, um ser antediluviano a ponto de extinguir-se, duas coisas fora de toda
realidade. Todo criador verdadeiro sabe - e o experimentou - que a poesia é uma
linguagem de fraternidade, um meio de alterar a vida individual e coletiva, um
sistema de correlação e conhecimento entre homem e natureza.
[1] Trocadilho com as palavras
antología e antojo – que significa qualquer coisa como um julgamento apressado,
feito sem uma verdadeira análise.
Excerto de um texto de Jorge Teillier (1935-1996).