segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A psicologia




Como você representa a falta de peixe?


















Como você faz para surpreender os personagens indesejáveis que deslizam entre seus pensamentos? Enumere diversos procedimentos.


















Ao fim do retorno às suas recordações, coloque uma escada contra a parede, mas não comece a subir sem ter se provido de uma corda, da qual um dos extremos será solidamente fixado ao chão e o outro enrolado ao redor do seu punho esquerdo. Por não terem tomado esta precaução, muitas pessoas jamais retornaram.


Poema de Juan Luis Martínez (1942-1993). Do livro La nueva novela (1977)

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Espejismos y realidades de la poesía chilena actual (excerto)




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Toda poesia é uma forma de comunicação, de fraternidade, um ato de amor. Apenas os obcecados pela incomunicabilidade e pela obscuridade podem pensar o contrário. Com razão Gonzalo Rojas disse: "... se minha palavra não tivesse sido escutada: ah, então não teria sido igual! Assim vou. Abrindo o mundo, como posso, com minha palavra, que é apenas parte da palavra dos poetas". É claro que existe uma poesia hermética, por necessidade profunda (por ora acessível apenas a uma minoria), como a de Humberto Díaz Casanueva, por exemplo. Mas junto a estes qualificados e necessários poetas existem os pseudopoetas que se amparam na facilidade de expressar em linhas mal cortadas a dispersão mental, a a-lógica, ou que despejam suas deliquescências adolescentes, seu vanguardismo anacrônico, os que elevam o lugar comum e o discurso de jornal à categoria do espírito, ou os que querendo ser mais Parra do que Parra incorrem em uma antipoesia que costuma não provocar riso, mas lástima. Todos eles, e não são poucos, criam uma confusão que prejudica notoriamente a difusão e o conhecimento da poesia como ela é.

Em que pese toda a grande fama da poesia chilena, e o lugar egrégio que ela ocupa segundo todos dizem reconhecer, a grande maioria dos poetas se bate com o problema de não ter editor, não poder dar a conhecer sua mensagem. Os editores não são filantropos, é claro, e afirmam que poesia não vende, ainda que façam muito pouco para difundi-la. De vez em quando se interessam pelas antologias, pois estas vendem, mas, para a desgraça dos poetas, na maior parte das vezes não são senão "Antojolías"[1] ou improvisações feitas por poetas ou críticos de boa ou má vontade (fora as antologias de Molina e Araya, Selva Lírica, a de Anguita e Teitelboim e, com todas as suas distorções, a de Jorge Elliott, seria difícil encontrar outras criteriosas). No ano passado apenas um livro de um poeta das últimas gerações foi publicado por uma editora comercial: El Viento de los Reinos, de Efraín Barquero. La fuga de Sebasatián, de Jaime Gómez Rogers, apareceu graças a ter vencido o Premio Alerce de la Sociedade de Escritores, que está sob ameaça de ser extinto. Mesmo Gonzalo Rojas teve de financiar grande parte do seu Contra la muerte, que no entanto apareceu em Cuba, e a viúva de Rosamel del Valle, Therése Dulac, financiou a edição póstuma de Adiós enigma tomasol. Assim o poeta, sobretudo o poeta jovem, deve publicar-se arriscadamente, por conta própria, e ao fim, seu livro, sem contar com distribuição, está condenado a ser enviado aos amigos, a não ser que o deixe dormindo num sótão. Situações todas elas deprimentes que contribuem para a separação entre poeta e público. E apenas um tolo pedante ou um pedante tolo pode consolar-se atualmente da pouca difusão dos seus livros dizendo que acontecia o mesmo com Baudelaire. Já não é possível se conformar com a ideia da poesia como um patrimônio de uns poucos e sábios iniciados. Se fosse assim, ela seria um luxo, e não uma necessidade, e o poeta, um ser antediluviano a ponto de extinguir-se, duas coisas fora de toda realidade. Todo criador verdadeiro sabe - e o experimentou - que a poesia é uma linguagem de fraternidade, um meio de alterar a vida individual e coletiva, um sistema de correlação e conhecimento entre homem e natureza.



[1] Trocadilho com as palavras antología e antojo – que significa qualquer coisa como um julgamento apressado, feito sem uma verdadeira análise.



Excerto de um texto de Jorge Teillier (1935-1996).